quinta-feira, 25 de agosto de 2011

VÁ PINCERO

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No último dia 12 de março a Itália festejava os 150 anos de sua criação,
ocasião em que a Ópera de Roma apresentou a ópera Nabuco de Verdi, símbolo
da unificação do país, que invocava a escravidão dos Judeus na Babilônia,
uma obra não só musical mas também, política à época em que a Itália estava
sujeita ao império dos Habsburgos (1840).
Sylvio Berlusconi assistia, pessoalmente, à apresentação, que era dirigida
pelo maestro Ricardo Mutti. Antes da apresentação o prefeito de Roma, Gianni
Alemanno - ex-ministro do governo Berlusconi, discursou, protestando contra
os cortes nas verbas da cultura, o que contribuiu para politizar o evento.
Como Mutti declararia ao TIME, houve, já de início, uma incomum ovação,
clima que se transformou numa verdadeira "noite de revolução"
quando sentiu uma atmosfera de tensão ao se iniciar os acordes do coral "Va
pensiero" o famoso hino contra a dominação. Há situações que não se pode
descrever, mas apenas sentir; o silêncio absoluto do público, na expectativa
do hino; clima que setransforma em fervor aos primeiros acordes do mesmo. A
reação visceral do público quando o côro entoa - "Ó minha pátria, tão bela e
perdida Ao terminar o hino os aplausos da plateia interrompem a ópera e o
público se manifesta com gritos de "bis", "viva Itália", "viva Verdi".
Das galerias são lançados papéis com mensagens políticas.
Não sendo usual dar bis durante uma ópera, e embora Mutti já o tenha feito
uma vez em 1986, no teatro La Scala de Milão, o maestro hesitou pois, como
ele depois disse: "não cabia um simples bis; havia de ter um propósito
particular". Dado que o público já havia revelado seu sentimento patriótico
fez com que o maestro se voltasse no púlpito e encarasse o público, e com
ele o próprio Berlusconi. Fazendo-se silêncio, pronunciou-se da seguinte
forma, e reagindo a um grito de "longa vida à Itália" disse RICCARDO MUTTI:
"Sim, longa vida à Itália mas... [aplausos]. Não tenho mais 30 anos e já
vivi a minha vida, mas como um italiano que percorreu o mundo, tenho
vergonha do que se passa no meu país. Portanto aquieço a vosso pedido de bis
para o VaPensiero. Isto não se deve apenas à alegria patriótica que senti em
todos, mas porque nesta noite, enquanto eu dirigia o côro que cantava "Ó meu
pais, belo e perdido", eu pensava que a continuarmos assim mataremos a
cultura sobre a qual assenta a história da Itália. Neste caso, nós, nossa
pátria, será verdadeiramente "bela e perdida". [aplausos retumbantes,
inclusive dos artistas da peça] Reina aqui um "clima italiano"; eu, Mutti,
me calei por longos anos.
Gostaria agora...nós deveriamos dar sentido a este canto; como estamos em
nossa casa, o teatro da capital, e com um côro que cantou magnificamente e
que é magnificamente acompanhado, se for de vosso agrado, proponho que todos
se juntem a nós para cantarmos juntos."
Foi assim que Mutti convidou o público a cantar o Côro dos Escravos.
Pessoas se levantaram. Toda a ópera de Roma se levantou... O coral também se
levantou. Foi um momento magnífico na ópera! Vê-se, também, o pranto dos
artistas.
Aquela noite não foi apenas uma apresentação do Nabuco mas, sobretudo, uma
declaração do teatro da capital dirigida aos políticos.

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